17 June 2024
2022/02/15 - 17:59
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Embaixador do Irã: “estamos experimentando expansão econômica e a perspectiva de mais crescimento é promissora”

Embaixador Hossein Gharibi fala sobre as relações diplomáticas do Irã com o Brasil, uma das mais antigas do país

A República Islâmica do Irã celebra hoje o 43º aniversário da revolução que mudou a história do país. Em entrevista ao Diplomacia Business, o embaixador do Irã no Brasil, Hossein Gharibi, fala sobre a data nacional e destaca a longa relação diplomática de seu país com o nosso, que já dura mais de um século.

Além de analisar como a relação econômica Irã-Brasil tende a melhorar, Gharibi explicou sobre como os iranianos lidam com as sanções econômicas. Ele destaca as conquistas do governo Ebrahim Raisi e comemora a expansão econômica que seu país está vivendo.

Acompanhe na íntegra:

Diplomacia Business: O Irã celebra sua data nacional em 22 de Bahman (11 de fevereiro). Fale obre a tradicional comemoração desse dia.

Embaixador do Irã, Hossein Gharibi: O 22 de Bahman, que no calendário Ocidental é 11 de fevereiro, é amplamente comemorado no Irã, sendo uma data muito marcante em nossa história moderna. Foi nesse dia em que conquistamos nossa independência após anos de luta e que as pessoas garantiram seu direito à autodeterminação.

Se olharmos para a história do Irã nos últimos séculos, é fácil perceber o que sentimos em relação à intervenção estrangeira e várias graves violações de nossa integridade territorial.

A região que conhecemos como Irã atualmente é herdeira de um grande império conhecido como Pérsia. Olhe especialmente para o século 19 e início do século 20, e poderá entender melhor o que quero dizer sobre recuperar o direito à autodeterminação e independência. No regime político anterior, aliado das potências ocidentais que se dizem democráticas, ter uma eleição justa era um pesadelo. Compare com a situação atual, onde realizamos mais de trinta eleições em quarenta anos. Não somos perfeitos, mas avançamos para a aplicação de valores mais democráticos. Isso fez uma grande diferença para as pessoas.

A população agora percebe que influencia no sistema político. São essas pessoas que apoiam sua própria escolha e estão prontas para fazer grandes sacrifícios por ela.

Como o senhor vê as relações Brasil-Irã atualmente? 

No próximo ano vamos comemorar os 120 anos de estabelecimento de nossas relações com o Brasil. Isso nos leva de volta a 1903, sendo um dos laços diplomáticos mais antigos da nação brasileira. Não houve nenhum momento em nossa história que gerou afastamento mútuo. Vários governos de ambos os lados passaram, sempre mantendo boas relações entre si.

Podemos dizer o mesmo sobre as relações bilaterais atuais. As diferenças políticas entre nós não fazem sentido. Alguns terceiros podem desejar – e eu enfatizo que eles podem querer – intervir em nossa relação, mas ambos os lados são inteligentes o suficiente para defender com liberdade seus próprios interesses nacionais.

Antes de vir ao Brasil tive a oportunidade de conversar com muitas pessoas que tinham algo a dizer sobre nossas relações. Eu estudei a fundo nossa história em comum. Tem sido uma das mais amigáveis que eu conheço. Com isso, observei muitos potenciais que podemos explorar para benefício de nossos povos.

No início da minha carreira como embaixador no Brasil, tive que garantir que nossas tradicionais relações comerciais, que somam bilhões de dólares, não fossem afetadas tanto pela pandemia de 2020 quanto pela pressão máxima orquestrada pelo governo Trump [ex-presidente dos EUA]. Refiro-me a sanções unilaterais que violam o acordo nuclear e a resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU além, claro, da violação do direito internacional. Esse objetivo, em primeira mão, foi bem-sucedido e avançamos muito em 2021.

Dito isso, o meu segundo objetivo é diversificar nossas relações comerciais. O Brasil é excelente na produção de commodities agrícolas, mas há outras áreas em que também podemos trabalhar juntos. Além disso, temos muitas áreas com grande potencial no Irã que encontram bons parceiros no Brasil.

Para ter relações equilibradas e sustentáveis, o Irã precisa exportar cada vez mais e também gerar lucro ao Brasil. Esse é o caminho certo para termos mais recursos financeiros que podem ser usados para comprar mais do mercado brasileiro. A embaixada já começou a trabalhar em diversas áreas de parceria comercial. Deixo para os setores privados de ambos os lados explorar todo o potencial dessa relação e estou muito otimista a esse respeito.

O Brasil tem interesse em aumentar as importações de ureia do Irã, produto utilizado na fabricação de fertilizantes. O embaixador brasileiro no Irã, Laudemar de Aguiar Neto, defende que esta é uma boa oportunidade para ampliar o comércio bilateral. Qual é a sua posição? 

A exportação de fertilizante à base de ureia iraniana foi um bom exemplo de potencial que começou a ser explorado principalmente em 2019. Também podemos trabalhar em outras novas áreas e garantir que elas trarão benefícios para ambos os lados. No ano passado, a quantidade importada foi enorme, mas não devemos e não podemos confiar em apenas um produto.

Temos muitas possibilidades sendo trabalhadas que levam em conta as necessidades do mercado brasileiro. As capacidades potenciais podem nos levar a ter mais atividades comerciais em uma escala mais equilibrada. Devo reconhecer aqui o ótimo trabalho diplomático de meu amigo e colega no Irã, o embaixador Laudemar, que trabalha ativamente para melhorar as relações bilaterais.

A China é o maior parceiro comercial do Irã há anos. Como você vê as mudanças no cenário diplomático com a consolidação desse multilateralismo, especialmente na Ásia?

A China é um grande parceiro em termos comerciais e também politicamente. Temos relações muito boas e compreensão mútua. Os dois países desfrutam de relações históricas e estiveram conectados pela Rota da Seda durante séculos. A China também tem sido o parceiro número um de mais de 120 países no mundo, incluindo o Brasil.

Gostaríamos de continuar mantendo boas relações com a China. Quando falamos em diversificação de parceiros comerciais ou aumento das boas relações com outros países, isso não significa que precisamos diminuir e diminuir os números com parceiros reais. Nunca. Devemos pensar de forma positiva. O comércio tem sua própria lógica e se você está indo bem em uma área ou fortalecido com alguns parceiros, significa que existem vantagens que funcionam. Não faz sentido ignorar tal lógica! Em vez disso, devem ser tomadas medidas para desenvolver áreas novas e inovadoras. Existem inúmeras boas oportunidades e capacidades nas nossas relações com os demais parceiros que precisam ser bem desenvolvidas. O Irã é um grande país, com uma população de 85 milhões, mão de obra jovem e bem preparada, rico em fontes de energia, minerais e quaisquer outros requisitos para um maior desenvolvimento. Vamos fazer a nossa parte de forma construtiva e certamente seremos recompensados.

Qual a projeção do Irã para o futuro próximo, dado o cenário econômico global pós-pandemia e a renegociação do acordo nuclear realizada pelo governo Ebrahim Raisi?

O novo governo no Irã é muito pragmático e espera aproveitar todas as oportunidades de desenvolvimento econômico. O Dr. Ebrahim Raisi e os membros de seu gabinete tentaram utilizar plenamente todas as capacidades disponíveis para garantir que a economia sirva melhor às pessoas. Até agora, nos últimos seis meses, obteve bons resultados em algumas áreas. O próprio presidente está supervisionando o desenvolvimento de cada projeto e visitou diferentes províncias. Ele contata regularmente pessoas diretamente responsáveis por diferentes projetos.

Estou muito otimista de que todos esses esforços trarão bons frutos para a economia e nossa nação, independentemente de qualquer tipo de compromisso possível nas negociações em Viena [sobre a retomada do acordo nuclear].

Aliás, nos acostumamos a conviver com sanções nos últimos 43 anos. Para nós, as sanções tornam o comércio internacional mais caro, embora sempre haja maneiras de minimizar seus efeitos. Aprendemos a viver sob sanções. Em qualquer planejamento seguimos dois planos para duas circunstâncias diferentes.

Supomos que o tudo continuará como está e então nos preparamos para trabalhar dentro das circunstâncias atuais. Ao mesmo tempo, nos preparamos para a possibilidade de menor pressão de sanções. Esta é a chave para ter sucesso a longo prazo.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para dizer que todas as nações devem usar as medidas de contra-sanção de que dispõem. Atualmente, entre trinta e quarenta países estão sujeitos a sanções unilaterais. Aqueles que fazem uso delas, na verdade, querem fazer pressão política contra seus concorrentes e adversários. Estados independentes têm que pensar sobre essa situação e como viver sob possíveis sanções. Caso contrário, estariam vulneráveis a se render à vontade de potências estrangeiras ou a enfrentar crises econômicas.

O Irã está experimentando expansão econômica e a perspectiva de mais crescimento é promissora. Não há razão para acreditar no contrário. Estamos na direção certa.

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